terça-feira, 2 de maio de 2017

Proposta apoiada pela IAAF pode anular recordes mundiais anteriores a 2005

Projeto idealizado pela Federação Europeia após escândalos de doping será votado a nível global

Uma proposta da Federação Europeia de Atletismo, apoiada pela Federação Internacional (IAAF), pode anular todos os recordes mundiais do esporte conquistados até 2005. O projeto foi idealizado com o objetivo de certificar que as marcas históricas tenham sido obtidas em condições de alto nível técnico e com controle antidoping passível de ser verificado até 10 anos depois de coletada a amostra, dentre outras especificidades.
O documento com tais propostas foi divulgado nesta segunda-feira após três dias de reunião do Conselho da entidade, em Paris. O presidente da IAAF, Sebastian Coe, estava presente na sessão final e mostrou-se favorável às sugestões.
- Gosto porque sublinha que nós (entidades) adotamos sistemas de controle antidoping e tecnologias que são mais robustas e seguras do que 15 ou mesmo 10 anos atrás. Claro que, para que essa regra seja levada aos recordes mundiais pela IAAF, será preciso apoio global de todas as associações regionais. Vai haver atletas, atuais recordistas mundiais, que sentirão que a história que estamos recalibrando estará tirando algo deles, mas acho que é um passo na direção certa. E se for organizada e estruturada propriamente teremos uma boa chance de ganhar de volta a credibilidade nesta área – disse Coe.
Sergey Bubka, recordista mundial do salto com vara, seria um dos atingidos pela proposta (Foto: Reuters)
Sergey Bubka, recordista mundial do salto com vara, seria um dos atingidos pela proposta (Foto: Reuters)

A ideia é que a proposta seja votada em congresso da IAAF, em julho, às vésperas do Mundial de Londres. Caso aprovada, o mais provável é que entre em vigor em janeiro de 2018. De acordo com o texto apresentado, recordes vigentes e futuros deverão atender ao menos três pontos básicos.
  • A performance deve ter sido alcançada em competições integrantes de uma lista de eventos internacionais aprovados, com haja garantia de altos padrões de arbitragem e equipamento técnico.
  • O atleta deverá ter se submetido a um determinado número de controles antidoping nos meses anteriores à performance
  • A amostra de controle antidoping recolhida após o recorde deverá ser armazenada e disponibilizada para novos testes por 10 anos.

  • Apesar de anular status de "recorde" das marcas que não atendam a essas especificações, as mesmas seguirão constando nas listas de melhores marcas da história. Quando um recorde for removido, o dono da marca subsequente não será considerado o novo recordista. Será estabelecida uma nada limite para estabelecimento do novo recorde mundial - no documento disponibilizado à imprensa não há mais detalhes sobre este ponto.

De acordo com o presidente da Federação Europeia, Svein Arne Hansen, a proposta radical tornou-se necessária para que o esporte recupere a credibilidade manchada após a revelação de escândalos de doping nos últimos três anos.

 Recordes que mostram os limites das capacidades humanas são uma das forças do nosso esporte, mas são sem sentido se as pessoas não acreditam realmente neles. O que estamos propondo é revolucionário, não apenas porque a maioria dos recordes mundiais e europeus terão que ser substituídas, mas porque queremos mudar o conceito de recorde e elevar os padrões para reconhecimento a um ponto em que todos possam confiar que tudo foi justo e acima de questionamentos.

Paula Radcliffe, recordista da maratona, também será afetada (Foto: Getty Images)
Paula Radcliffe, recordista da maratona, também será afetada (Foto: Getty Images)

Em 2015 e 2016, relatórios de uma comissão independente da Agência Mundial Antidoping (Wada, na sigla em inglês) revelaram amplos esquemas de corrupção e acobertamento de doping. No caso da Rússia, em que houve comprovação até de envolvimento governamental no subsídio ao doping, a Federação Nacional do país foi banida das competições internacionais por tempo indeterminado. Reanálises recentes de exames feitos nos Jogos de 2008 e 2012 descobriram mais de 100 casos de doping, cujas sanções divulgadas pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) já estão em vigor.

Confira os recordes outdoor que serão anulados caso a proposta seja aceita
1000m - masculino - Noah Ngeny (Quênia) - 2m11s96 - 5/9/1999
1500m - masculino - Hicham El Guerrouj (Marrocos) - 3m26s - 14/7/1998
1 milha - masculino - Hicham El Guerrouj (Marrocos) - 3m43s16 - 7/7/1999
2000m - masculino - Hicham El Guerrouj (Marrocos) - 4m44s79 - 7/7/1999
3000m - masculino - Daniel Komen (Quênia) - 7m20s67 - 1/7/1996
5000m - masculino - Kenenisa Bekele (Etiópia) - 12m37s35 - 13/6/1998
3000m com obstáculos - masculino - Saif Saaeed Shaheen (Catar) - 7m53s63 - 3/9/2004
400m com barreiras - masculino - Kevin Young (EUA) - 46s78 - 6/8/1992
100km - masculino - Takahiro Sunada (Japão) - 6h13m33 - 21/6/1998
Salto em altura - masculino - Javier Sotomayor (Cuba) - 2,45m - 27/7/1993
Salto com vara - masculino - Sergey Bubka (Ucrânia) - 6,14m - 31/7/1994
Salto em distância - masculino - Mike Powell (EUA) - 8,95m - 30/8/1991
Salto triplo - masculino - Jonathan Edwards (Grã-Bretanha) - 18,29 - 7/8/1995
Arremesso de peso - masculino - Randy Barnes (EUA) - 23,12 - 20/5/1990 
Lançamento de disco - masculino - Jurgen Schult (Alemanha) - 74,08m - 6/6/1986
Lançamento de martelo - masculino - Yuriy Sedykh (Polônia) - 86,74 - 30/8/1986
Lançamento de dardo - masculino - Jan Zelezny (República Tcheca) - 98,48m - 25/5/1996
Revezamento 4 x 400m - masculino - EUA - 2m54s29 - 22/8/1993
100m - Florence Griffith-Joyner (EUA) - 10s49 - 16/7/1988
200m - Florence Griffith-Joyner (EUA) - 21s34 - 29/9/1988
400m - Marita Koch (Alemanha) - 47s60 - 6/10/1985
800m - Jarmila Kratochvílová (Rep. Tcheca) - 1m53s28 - 26/7/1983
1000m - Svetlana Masterkova (Rússia) - 2m28s98 - 23/8/1996
1 milha - Svetlana Masterkova (Rússia) - 4m12s56 - 14/8/1996
2000m - Sonia O'Sullivan (Irlanda) - 5m25s36 - 8/7/1994
3000m - Junxia Wang (China) - 8m06s11 - 13/9/1993
20000m - Tegla Loroupe (Quênia) - 1h05m26s6 - 3/9/2000
25000m - Tegla Loroupe (Quênia) - 1h27m05s9 - 21/9/2002
30000m - Tegla Loroupe (Quênia) - 1h45m50 - 6/6/2003
400m com barreiras - Yuliya Pechenkina (Rússia) - 52s34 - 8/8/2003
Maratona - Paula Radcliffe (Grã-Bretanha) - 2h15m25 - 13/4/2003
100km - Tomoe Abe (Japão) - 6h33m11 - 25/6/2000
Salto em altura - Stefka Kostadinova (Bulgária) - 2,09 - 30/8/1987
Salto em distância - Galina Chistyakova (URSS) - 7,52 - 11/6/1988
Salto triplo - Inessa Kravets (Ucrânia) - 15,50 - 10/8/1995
Arremesso de peso - Natalya Lisovskaya (URSS) - 22,63 - 7/6/1987
Lançamento de disco - Gabriele Reinsch (República Democrática Alemã) - 76,80 - 9/7/1988
Heptatlo - Jackie Joyner-Kersee (EUA) - 7291 pontos - 24/9/1988
10000m marcha - Nadezhda Ryashkina (URSS) - 41m56s23 - 24/7/1990
20000m marcha - Olimpiada Ivanova (Rússia) - 1h26m52s3 - 6/9/2001
Revezamento 4 x 200m - Estados Unidos "Azul" - 1m27s46 - 29/4/2000
Revezamento 4 x 400m - URSS - 3m15s17 - 1/10/1988
Revezamento 4 x 800m - URSS - 7m50s17 - 5/8/1984

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