Descoberto por técnico no final de 2014, Boris Berian tem ascensão meteórica nos 800m e consagra início de temporada perfeita com título nos 800m em Portland
Chegar com status de estrela a um campeonato de elite ainda assustava Boris Berian. Há menos de dois anos, a rotina do americano consistia em dormir no sofá de um amigo e garantir seu sustento trabalhando em uma franquia do McDonalds. Descoberto por um técnico de ponta no final de 2014, pôde finalmente deixar de fritar hambúrgueres para dedicar-se exclusivamente a perseguir o sonho olímpico. Hoje, aos 23 anos,consagrou o incrível início de temporada com um emocionante título nos 800m do Mundial de Portland. Empurrado pela torcida do início ao fim, cravou 1m45s83, melhor marca de 2016 em pista coberta. Antoine Gakeme, do Burundi (1m46s65) e Erik Sowinsk, também dos EUA, completaram o pódio no Oregon Convention Center.
- Definitivamente a última parte foi da torcida, me apoiando, gritando loucamente. Eu só queria fazer minha parte, liderar a prova e segurar depois, ver quão forte eu era para terminar - disse o campeão.
Assim como a maioria dos atletas olímpicos americanos, Berian conciliava os treinos com os estudos universitários. Aluno da Adams State University, foi bicampeão dos 800m da NCAA (Associação Atlética das Universidades Americanas). Não era, no entanto, um bom aluno, e decidiu abandonar os livros.
Para bancar as viagens para competir, viu na rede de fast-food a oportunidade de fazer dinheiro. Ia de bicicleta para o trabalho, onde ganhava US$ 8 a hora (aproximadamente R$ 24 na conversão atual). Treinava à noite e tinha poucas horas de descanso, quase sempre passadas no sofá do amigo que lhe deu abrigo em Colorado Springs.
A guinada deste roteiro começou através de uma mensagem no Facebook. Foi convidado por Daniel Guerrero a integrar um clube de corrida na Califórnia. Um mês após junta-se ao grupo, conheceu Carlos Handler, marido de Brenda Martinez, medalhista de bronze em mundiais. Tendo uma preparação top, progrediu de forma impressionante. Baixou sua melhor marca da carreira de 1m48s93 para 1m45s30 em menos de cinco meses de treinamento.
O primeiro gosto de um grande evento veio na etapa de Nova York da Diamond League no ano passado. Dividindo raia com o campeão olímpico e recordista mundial dos 800m, David Rudisha, conseguiu correr a distância em 1m43s84, apenas 15 centésimos mais lento do que o queniano.
Se no campeonato americano outdoor em 2015 Berian não correspondeu às expectativas, neste ano ele as superou. No nacional indoor, sagrou-se campeão com 1m43s34, quinto melhor tempo do país na distância em todos os tempos. Foi o suficiente para colocá-lo como forte candidato ao ouro no Mundial de Portland.
Nas eliminatórias, disputadas nesta sexta-feira no Oregon Convention Center, Berian competiu na segunda bateria. Fez uma prova de recuperação e chegou a liderar o pelotão, mas foi ultrapassado no fim por Antoine Gakeme, do Burundi. Com a quinta melhor marca geral, avançou à final com o tempo de 1m48s55. Na decisão, disparou desde a primeira volta, imprimindo um ritmo forte.
Na última parte da prova, quando parecia estar perdendo fôlego, a torcida fez sua parte. Os torcedores presentes no Oregon Convention Center se levantaram, gritaram muito e de alguma forma renovaram as energias de Berian.
Há dois anos eu estava no McDonalds. Estar agora competindo num nível de elite é definitivamente muito melhor do que eu esperava. Agora tem muita mídia atrás de mim, mas isso não me afeta muito. Eu foco em treinar e fazer o que eu amo, que é correr. Era um sonho representar os EUA, então estou muito feliz.
Se o título em Portland virou realidade, a próxima grande meta é manter o alto nível até 1º de julho, quando começam as seletivas olímpicas americanas. Na pista do Hayward Field, tradicional palco do atletismo dos EUA, Berian tentará garantir sua primeira participação nos Jogos. Olhando para trás, vendo sua evolução desde os tempos em que dividia os treinos com os turnos na lanchonete de fast-food, o atleta crê ser possível representar seu país no Rio de Janeiro.
- Quando a temporada outdoor começar devo manter o mesmo ritmo de treinos que fiz para o indoor. Quando o verão (do hemisfério norte) chegar, talvez eu trabalhe mais a velocidade. Estou tendo todo apoio da minha família e amigos, e meu agente está tentando patrocínios para que eu possa me dedicar só aos treinos. As Olimpíadas são a grande competição, e aqui foi uma boa preparação.
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