Há 16 anos, a menina Keila Costa treinava com todas as dificuldades do mundo, em Abreu e Lima, pertinho de Recife.
Os traficantes locais jogavam cacos de vidro na pista de terra improvisada ao lado de uma escola pública. Faziam de tudo para impedir que o guerreiro Roberto Andrade trabalhasse com as crianças da região – que enfrentam um dos maiores índices de prostituição de Pernambuco.
Pois mesmo com todo tipo de enfrentamento e obstáculo, o técnico Roberto fez de Keila uma atleta de verdade, fora de série.
Em um Campeonato Brasileiro Norte-Nordeste, realizado em Natal, os organizadores tiveram de aumentar a pista com uma tábua para que ela pudesse executar o seu salto em 19 passadas e conquistar a medalha de ouro na prova do salto em distância.
Era na época uma menina promissora.
Cumpriu o seu destino: trocou Recife pelo sul, disputou Olimpíadas, estará nos Jogos do Rio e neste sábado ficou em 9.º lugar no Mundial Indoor de Atletismo, que está sendo disputado em Portland, nos Estados Unidos. Não foi muito bem, na verdade, saltou 13 metros e 94 centímetros.
Estaria tudo certo se quando os dirigentes trouxeram Keila para São Paulo, tivessem dado condições a Roberto Andrade para descobrir novas crianças talentosas em Abreu e Lima. Seria certo se tivessem mandado pares de tênis, camisetas, calções para o abnegado pernambucano distribuir para seus meninos.
Seria mais certo ainda se o tivessem ajudado com cursos para especialização em sua atividade na Educação Física. E seria o ideal se o governo pernambucano, a prefeitura da cidade e o Ministério do Esporte dessem condições para que a pista improvisada virasse uma pista de verdade, que os traficantes fossem enxotados do lugar, que uma nutricionista trabalhasse com Roberto.
Mas nada disso aconteceu. Roberto continua garimpando, continua educando as crianças do lugar. Ele não desiste.
Hoje treina 150 pequenos atletas, com caixas de papelão, canos que imitam barreiras e uma alimentação que ele consegue sabe-se lá onde.
Isso explica por que o esporte nacional – o que vai ter uma Olimpíada toda sua – não anda para frente.
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